Pitadas extras de narcisismo são parte da natureza adolescente. No caso brasileiro, no entanto, tudo indica que há um certo exagero na dose. Entre os anos de 2002 e 2003, o número de jovens que se submeteram a cirurgias plásticas no país cresceu 45%, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética. Mais de 11% do total de plásticas realizadas no país são feitas em pacientes de até 20 anos. Nos Estados Unidos, esse número não passa de 7%. Lá, a cirurgia campeã é a rinoplastia (correção do nariz para tratamento de distúrbios respiratórios ou finalidades estéticas). No Brasil, lidera o ranking das plásticas o implante de prótese para aumento dos seios. O jovem brasileiro também é campeão mundial no que diz respeito à disposição de consumir. Pesquisa feita pelo Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, em parceria com a Unesco, estudou hábitos de consumo de jovens de diversos países e concluiu que, entre os que disseram "interessar-se muito por compras", a maior porcentagem era de brasileiros: 37%. Os franceses vieram em segundo lugar, com 32%, seguidos pelos japoneses (31%).
Parece espantoso? Nem um pouco, afirmam especialistas. "O jovem não é um grupo separado da sociedade. É parte e reflexo dela", afirma a psicanalista Cleusa Pavan, professora do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Assim, num país campeão em cirurgias plásticas, nada mais natural que os jovens também liderem o ranking no seu segmento. O mesmo ocorre com o consumo. "O Brasil é uma nação emergente. Países nessa situação, assim como pessoas, tendem a valorizar ou exagerar hábitos de consumo, em especial os que denotam poder e riqueza", afirma o publicitário Luiz Alberto Marinho, especialista em tendências de consumo. Conclusão: se o universo adolescente vem dando mostras de um narcisismo exacerbado e de um consumismo exagerado, a responsabilidade por isso é, antes de tudo, dos adultos. "Os próprios pais desses adolescentes estão muito preocupados com a aparência. A deles e a dos filhos. Muitos cobram das crianças que sejam magras, bonitas e bem-vestidas o tempo todo", diz a psicóloga Ceres Alves de Araujo, professora da PUC de São Paulo. O psicanalista Contardo Calligaris também acredita que a responsabilidade pelo comportamento dos jovens tem muito a ver com as expectativas dos adultos. "Os adolescentes são sempre excelentes intérpretes do desejo de seus pais", afirma Calligaris. "Assim, consciente ou inconscientemente, acabam realizando os sonhos consumistas dos adultos – que, não raro, se dizem horrorizados com os hábitos dos filhos, mas sentem uma ponta de prazer em vê-los realizar sonhos que eles próprios não querem admitir que têm."
O consumismo adolescente, assim como a vaidade, vem sendo retratado com freqüência em programas de TV dirigidos ao público jovem. A própria MTV criou um programa inspirado nos reality shows americanos dedicados a mostrar as milagrosas transformações de que são capazes um bom bisturi e um alentado pacote de sessões dermatológicas. O Missão, apresentado pela modelo Fernanda Tavares, patrocina banhos de loja e imersões em salões de beleza a candidatos à metamorfose. Criado há menos de um ano, já está entre as cinco atrações de maior audiência da rede, que tem 35 programas ao todo. O seriado Malhação, da Rede Globo, com seus roteiros de estilo edificante, também já abordou o consumismo adolescente em diversos episódios. No mais recente deles, um adolescente pobre e interesseiro se aproxima de uma jovem bonita e ricaça só para se aproveitar do dinheiro dela e satisfazer seus desejos de consumo. Termina arrependido e redimido pelo amor. O fato de, no seriado, o consumista desenfreado ser um menino, e não uma menina, tem uma explicação. O aumento da vaidade masculina é uma das conclusões mais notáveis da pesquisa da MTV. Segundo o estudo, 37% dos adolescentes e jovens do sexo masculino hoje cuidam das unhas, 28% usam cremes no rosto, 25% pintam o cabelo e 22% fazem limpeza de pele. O estudante de direito Marcelo Campos Silva Abbondanza, de 22 anos, por exemplo, cumpre a lista inteira, à exceção da pintura no cabelo. A cada dez dias, submete-se ainda a sessões de bronzeamento artificial. "Tenho uma irmã mais velha, mas acho que sou o mais vaidoso de casa", diz Marcelo. O estudante de arquitetura Guilherme Salsarella, de 18 anos, conta que seus cuidados com a beleza se resumem ao cabelo, diariamente arrumado com a ajuda de cera importada. Em compensação, ele é capaz de gastar toda a mesada, de 680 reais, em roupas e chegou a torrar 700 reais em uma única conta de celular – quer dizer, sua mãe torrou. Em cinco anos, o estudante trocou dez vezes de aparelho.
GUILHERME SALSARELLA,
18 anos, estudante de arquitetura
De acordo com a pesquisa da MTV, não são só os telefones celulares que os jovens brasileiros vêm trocando com freqüência cada vez maior. Ela mostra que 53% dos entrevistados já "ficaram" com mais de uma pessoa na mesma noite e que 76% já beijaram na boca uma pessoa que conheceram no mesmo dia. "Esse tipo de comportamento reforça a constatação de que os jovens hoje têm uma ânsia muito grande pela novidade e, principalmente, pela quantidade", afirma a psiquiatra Carmita Abdo. A obsolescência acelerada, tanto dos objetos quanto dos relacionamentos, pode ter conseqüências negativas para esses adultos em formação, alerta a psicóloga Helena Lima. "Corremos o risco de ter uma geração de pessoas ansiosas e insatisfeitas", diz ela. "Hoje, a felicidade e o bem-estar duram muito pouco. Os jovens querem sempre um computador mais novo, um boné mais caro e um corpo mais satisfatório." Nesse cenário, nem as modelos, símbolos da perfeição estética, escapam da frustração. Pesquisa realizada pelo psicólogo Marco Antonio De Tommaso com 140 delas chegou à estarrecedora conclusão de que 100% das entrevistadas estão insatisfeitas com o próprio corpo. A quase-totalidade (92%) disse que gostaria de fazer lipoaspiração e 72%, plástica no rosto.
Aos pais, resta o dilema diário de decidir se cedem ou não aos desejos dos filhos. Uma menina de 16 anos deve se submeter a uma plástica nos seios? O pedido de (mais) uma calça jeans de 1.600 reais deve ser respondido prontamente com um "não" indignado? Especialistas afirmam que, para responder a questões como essas, os pais devem levar em conta dois pontos fundamentais. O primeiro é saber que ceder de imediato às demandas adolescentes – seja por excesso de condescendência, seja por falta de disposição de brigar – implica pelo menos um risco grave: o de criar filhos incapazes de lidar com a frustração e com a espera, duas características incompatíveis com o universo que os aguarda, o dos adultos. O segundo é que, para o adolescente, ser aceito por seu grupo constitui uma necessidade tão crucial quanto é, para o adulto, estar empregado, por exemplo. "É por causa disso que eles precisam muito mais de símbolos de estilo do que nós", diz o especialista em consumo Luiz Alberto Marinho. Uma calça cara pode ser, aos olhos do adolescente, menos uma extravagância de consumo do que uma espécie de senha para que ele consiga se integrar a sua turma. Cabe aos pais avaliar o que está por trás do desejo dos adolescentes. E, por via das dúvidas, dar uma espiada nos próprios extratos de cartão de crédito, antes de se indignar com o filho gastão.
Concluindo, o comportamento dos jovens se dá em torno de um modelo consumista e narcizista, o que de forma exagerada pode ser prejudicial a vida adolescente. Mas os jovens atuais não ligam para isso com tanto que estejam satisfeitos o que é um caso raro, ja que eles sempre querem mais de tudo. A beleza, a estética e o "estar na moda" é o realmente importa a eles.
Parece espantoso? Nem um pouco, afirmam especialistas. "O jovem não é um grupo separado da sociedade. É parte e reflexo dela", afirma a psicanalista Cleusa Pavan, professora do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Assim, num país campeão em cirurgias plásticas, nada mais natural que os jovens também liderem o ranking no seu segmento. O mesmo ocorre com o consumo. "O Brasil é uma nação emergente. Países nessa situação, assim como pessoas, tendem a valorizar ou exagerar hábitos de consumo, em especial os que denotam poder e riqueza", afirma o publicitário Luiz Alberto Marinho, especialista em tendências de consumo. Conclusão: se o universo adolescente vem dando mostras de um narcisismo exacerbado e de um consumismo exagerado, a responsabilidade por isso é, antes de tudo, dos adultos. "Os próprios pais desses adolescentes estão muito preocupados com a aparência. A deles e a dos filhos. Muitos cobram das crianças que sejam magras, bonitas e bem-vestidas o tempo todo", diz a psicóloga Ceres Alves de Araujo, professora da PUC de São Paulo. O psicanalista Contardo Calligaris também acredita que a responsabilidade pelo comportamento dos jovens tem muito a ver com as expectativas dos adultos. "Os adolescentes são sempre excelentes intérpretes do desejo de seus pais", afirma Calligaris. "Assim, consciente ou inconscientemente, acabam realizando os sonhos consumistas dos adultos – que, não raro, se dizem horrorizados com os hábitos dos filhos, mas sentem uma ponta de prazer em vê-los realizar sonhos que eles próprios não querem admitir que têm."
O consumismo adolescente, assim como a vaidade, vem sendo retratado com freqüência em programas de TV dirigidos ao público jovem. A própria MTV criou um programa inspirado nos reality shows americanos dedicados a mostrar as milagrosas transformações de que são capazes um bom bisturi e um alentado pacote de sessões dermatológicas. O Missão, apresentado pela modelo Fernanda Tavares, patrocina banhos de loja e imersões em salões de beleza a candidatos à metamorfose. Criado há menos de um ano, já está entre as cinco atrações de maior audiência da rede, que tem 35 programas ao todo. O seriado Malhação, da Rede Globo, com seus roteiros de estilo edificante, também já abordou o consumismo adolescente em diversos episódios. No mais recente deles, um adolescente pobre e interesseiro se aproxima de uma jovem bonita e ricaça só para se aproveitar do dinheiro dela e satisfazer seus desejos de consumo. Termina arrependido e redimido pelo amor. O fato de, no seriado, o consumista desenfreado ser um menino, e não uma menina, tem uma explicação. O aumento da vaidade masculina é uma das conclusões mais notáveis da pesquisa da MTV. Segundo o estudo, 37% dos adolescentes e jovens do sexo masculino hoje cuidam das unhas, 28% usam cremes no rosto, 25% pintam o cabelo e 22% fazem limpeza de pele. O estudante de direito Marcelo Campos Silva Abbondanza, de 22 anos, por exemplo, cumpre a lista inteira, à exceção da pintura no cabelo. A cada dez dias, submete-se ainda a sessões de bronzeamento artificial. "Tenho uma irmã mais velha, mas acho que sou o mais vaidoso de casa", diz Marcelo. O estudante de arquitetura Guilherme Salsarella, de 18 anos, conta que seus cuidados com a beleza se resumem ao cabelo, diariamente arrumado com a ajuda de cera importada. Em compensação, ele é capaz de gastar toda a mesada, de 680 reais, em roupas e chegou a torrar 700 reais em uma única conta de celular – quer dizer, sua mãe torrou. Em cinco anos, o estudante trocou dez vezes de aparelho.
GUILHERME SALSARELLA,
18 anos, estudante de arquitetura
"Não posso entrar em um shopping center. Compro até acabar meu dinheiro. Tenho quinze pares de tênis, mais de 25 jaquetas e 37 calças jeans, embora só use cinco. Minha mãe fica louca. Ela é psicopedagoga, socialista, superética. Nada perua. Eu sou consumista por mim e por ela."
De acordo com a pesquisa da MTV, não são só os telefones celulares que os jovens brasileiros vêm trocando com freqüência cada vez maior. Ela mostra que 53% dos entrevistados já "ficaram" com mais de uma pessoa na mesma noite e que 76% já beijaram na boca uma pessoa que conheceram no mesmo dia. "Esse tipo de comportamento reforça a constatação de que os jovens hoje têm uma ânsia muito grande pela novidade e, principalmente, pela quantidade", afirma a psiquiatra Carmita Abdo. A obsolescência acelerada, tanto dos objetos quanto dos relacionamentos, pode ter conseqüências negativas para esses adultos em formação, alerta a psicóloga Helena Lima. "Corremos o risco de ter uma geração de pessoas ansiosas e insatisfeitas", diz ela. "Hoje, a felicidade e o bem-estar duram muito pouco. Os jovens querem sempre um computador mais novo, um boné mais caro e um corpo mais satisfatório." Nesse cenário, nem as modelos, símbolos da perfeição estética, escapam da frustração. Pesquisa realizada pelo psicólogo Marco Antonio De Tommaso com 140 delas chegou à estarrecedora conclusão de que 100% das entrevistadas estão insatisfeitas com o próprio corpo. A quase-totalidade (92%) disse que gostaria de fazer lipoaspiração e 72%, plástica no rosto.
Aos pais, resta o dilema diário de decidir se cedem ou não aos desejos dos filhos. Uma menina de 16 anos deve se submeter a uma plástica nos seios? O pedido de (mais) uma calça jeans de 1.600 reais deve ser respondido prontamente com um "não" indignado? Especialistas afirmam que, para responder a questões como essas, os pais devem levar em conta dois pontos fundamentais. O primeiro é saber que ceder de imediato às demandas adolescentes – seja por excesso de condescendência, seja por falta de disposição de brigar – implica pelo menos um risco grave: o de criar filhos incapazes de lidar com a frustração e com a espera, duas características incompatíveis com o universo que os aguarda, o dos adultos. O segundo é que, para o adolescente, ser aceito por seu grupo constitui uma necessidade tão crucial quanto é, para o adulto, estar empregado, por exemplo. "É por causa disso que eles precisam muito mais de símbolos de estilo do que nós", diz o especialista em consumo Luiz Alberto Marinho. Uma calça cara pode ser, aos olhos do adolescente, menos uma extravagância de consumo do que uma espécie de senha para que ele consiga se integrar a sua turma. Cabe aos pais avaliar o que está por trás do desejo dos adolescentes. E, por via das dúvidas, dar uma espiada nos próprios extratos de cartão de crédito, antes de se indignar com o filho gastão.
Concluindo, o comportamento dos jovens se dá em torno de um modelo consumista e narcizista, o que de forma exagerada pode ser prejudicial a vida adolescente. Mas os jovens atuais não ligam para isso com tanto que estejam satisfeitos o que é um caso raro, ja que eles sempre querem mais de tudo. A beleza, a estética e o "estar na moda" é o realmente importa a eles.
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